Ele é jornalista, radialista, apresentador, repórter, apaixonado pelo mundo da televisão e viajante.
E dedicou um tempo na sua agenda para uma entrevista exclusiva ao Blog do Guinho César.
Rafael Machado, repórter na TV Record do Rio Grande do Sul, mas com grande experiência em apresentação de telejornais, falou sobre sua rotina, seus sonhos e opinou sobre a copa do mundo no Brasil.
Falou também sobre os desafios da profissão, a importância das redes sociais e como reage às abordagens do público nas ruas.
Com várias reportagens nacionais, Rafael Machado já é bem conhecido do público da Tv Record no Brasil.
Com vocês, a entrevista exclusiva com o jornalista.
BGC: O que é ser jornalista?
RM: É estar sempre atento em tudo que acontece ao seu redor. Não desligar nunca. Saber circular em todos os meios, interagir com qualquer tipo de público, sem preconceitos. E mais do que isso, ser jornalista é não ter medo de arriscar, pesquisar, confrontar e ir em busca da verdade e do que realmente interessa a sociedade. Conseguir levar até o leitor, ouvinte ou telespectador a versão mais próxima da realidade. Reportar e mostrar através de texto e imagem. Com ética e cuidado, sem esquecer que somos formadores de opinião.
BGC: Nos conte como é a sua rotina, pois sabemos que vida de jornalista é bem movimentada.
RM: É uma verdadeira corrida contra o tempo. A notícia não tem hora para acontecer e precisamos ser ágeis, sem perder a qualidade. Eu estava acordando todos os dias antes das 5 da manhã para entrar ao vivo no jornal das 6h30. Então você imagina só o corre, corre. Durante os links existe a preocupação em repassar ao telespectador as primeiras informações do dia, tudo atualizado. Na reportagem, também é bem agitado. Tem vezes que a equipe passa por quatro cidades diferentes, em menos de 6 horas. Normalmente, fechamos dois vts por dia. Gravamos o material, escrevo o texto pelo celular (dentro do carro) e o editor aprova por e-mail. Enquanto isso, já estamos seguindo para outra marcação. Tem dias que a gente não respira mas é muito gratificante.
BGC: A paixão pela comunicação começou cedo na sua vida? Nos fale um pouco do seu início na área de comunicação.
RM: Começou bem cedo. Gosto de televisão e, desde pequeno, sempre quis trabalhar na área. O tempo foi passando e tive a oportunidade de ingressar nesse mundo durante o ensino fundamental. Lá estava eu, na 8ª série, com 13 anos, apresentando o jornal da escola. Fiz isso por quatro anos. Quando saí do ensino médio fui direto cursar jornalismo. E não parei mais. Na faculdade criei vários projetos e formatos de programas jornalísticos. Passei pela TV UCPEL, da Universidade Católica de Pelotas, como estagiário. E pela TV FURG, da Universidade Federal do Rio Grande, como contratado. Na metade do curso, fui convidado para trabalhar como repórter na TV Nativa, afiliada da TV Record. Tinha o compromisso de mostrar tudo o que acontecia na cidade de Rio Grande, no sul do Estado. Tarefa difícil. Como era uma TV do interior, eu fazia de tudo. Produzia, editava e, as vezes, até gravava. Foi uma escola que me ajudou a entender como funciona o jornalismo.
BGC: De repórter de escola para apresentador de TV. E hoje, você se sente realizado, ou ainda tem sonhos na profissão?
RM: Gosto de desafios, da novidade. Busco fazer o diferencial e acho que televisão é um aprendizado diário. No final de 2011, quando me mudei para Porto Alegre, tive a confirmação de tudo isso. Trabalhei três meses na TV Pampa, afiliada da Rede TV! na capital gaúcha. No segundo dia de trabalho, fui convidado para gravar um piloto na bancada. Sempre gostei da apresentação e, para minha surpresa, no dia seguinte eu estava ao vivo para todo o estado, apresentando o "Jornal da Pampa". Fiz as férias do apresentador titular e comandei o programa em ocasiões especiais. Nessa época, levantamos a audiência no horário e chegamos a atingir a vice-liderança em diversos momentos. Tive liberdade para mostrar meu estilo, comentando as notícias e adotando uma linha mais "informal". Uma fase gratificante na minha carreira. Então, respondendo a pergunta, ainda tenho muitas metas na profissão. Um delas é poder comandar uma atração. A TV Record sempre apostou no meu trabalho e, nesses 4 anos, me deu muitas oportunidades. Quero poder exercitar mais esse meu lado apresentador.
BGC: Trabalhar em jornalismo requer muita pesquisa e esforço do profissional. Quais são os maiores desafios da sua profissão?
RM: O maior desafio é transmitir a mensagem. Não podemos nunca esquecer que do outro lado da tela tem alguém acompanhando o nosso trabalho. É como se fosse uma conversa, um bate-papo com o telespectador. Se você não fala direito, não explica, fica difícil de entender.
BGC: O jornalista tem uma imagem de defensor da sociedade. Você é muito abordado nas ruas para ouvir sobre os problemas da população?
RM: Olha, bastante... As pessoas acabam se identificando com você e idealizam essa imagem de "defensor da sociedade". Os apelos e pedidos de ajuda surgem diariamente. Na rua, tem gente que me aborda e fala que só nós, jornalistas, podemos solucionar o problema. Ou porque o hospital não tem vaga, a polícia não é atuante, o governo não faz nada. Pensando assim, temos uma responsabilidade e tanto nas mãos. Nosso papel é ser o porta-voz da sociedade e cobrar soluções.
BGC: Por trabalhar com os problemas da população, você convive com cenas fortes em suas reportagens. Como você consegue separar o trabalho da vida pessoal?
RM: Quem disse que a gente consegue? Mesmo de folga, eu estou sempre ligado. Acaba sendo automático. Em determinadas situações, nos deparamos com cenas revoltantes. O importante é não deixar que isso atrapalhe no resultado final de uma reportagem. Pelo contrário, as vezes a emoção permite passar o clima daquele momento. Na cobertura das manifestações, por exemplo, ninguém sabia o que poderia acontecer, não tinha como ficar calmo ou tranquilo durante os conflitos. Não existia segurança mas o medo precisava ficar de lado para que fosse possível reportar tudo aquilo.
BGC: Nos fale um pouco de sua experiência no exterior. Como foi sua experiência no Hoje em Dia RS?
RM: Trabalhei durante dois anos na TV Nativa, afiliada da Record no interior do Rio Grande do Sul. Nesse período viajei para o exterior, fiquei três meses na Europa.
Foi um intercâmbio que se transformou em viagem jornalistica. Levei uma câmera comigo e comecei a gravar o que ia encontrando pela frente. Fiz reportagens na Inglaterra, Itália, e Escócia. O material ficou tão bacana que foi editado no Brasil e oferecido para a equipe do programa "Hoje em Dia". Uma experiência que me ajudou muito no amadurecimento profissional. E eu repeti a dose. Em 2013, voltei para Londres e produzi uma série de cinco reportagens. Dessa vez, com uma abordagem mais séria. Falamos de temas como o tráfico de drogas e os imigrantes que vivem de forma ilegal no país. Um resultado pra lá de gratificante. O material sobre flagrantes da venda de drogas, por exemplo, atingiu a liderança durante o "Rio Grande no Ar" e empatou com a Globo.
BGC: Como é a sua relação com a rede social, e qual a importância dela no seu trabalho?
RM: Eu sempre usei muito a internet. Mas, confesso, não era muito ligado nas redes sociais. Agora, é algo indispensável. Uso a ferramenta durante o trabalho para apurar informações e fechar o material que vai ao ar. E também interajo todos os dias com os telespectadores. Acho esse contato com o público fundamental nos dias de hoje. Quem nos assiste também quer trocar ideias com a gente ou, pelo menos, saber o que estamos fazendo. Por isso, tenho essa preocupação de, sempre que possível, abastecer o perfil com algum conteúdo diferente.
BGC: Todo jornalista procura ter visibilidade, até para promover seu trabalho. Você tem vontade de trabalhar no eixo Rio-São Paulo, ou hoje não existe mais a regionalização?
RM: Sem dúvida. Eu sou novo ainda, estou "engatinhando" na profissão. Mas tenho muita vontade de atuar em São Paulo, só que no momento certo. Não gosto de apressar as coisas e procuro aproveitar ao máximo as oportunidades para aprender e aperfeiçoar meu trabalho. Quem sabe daqui um tempo não surge um convite? Eu iria adorar!
BGC: Na sua opinião, o que devemos fazer para ter um Brasil melhor?
RM: Precisamos viver mais o Brasil e saber o que acontece por aqui. Cobrar com razão. Não adianta reclamar sem ter responsabilidade na hora de votar. Parece até clichê, mas a resposta está nas urnas. O país não vai pra frente porque nossos governantes não atuam como deveriam. E a população tem que exigir os direitos que tem como cidadãos. O país do futebol só vai mudar quando a prioridade for saúde, segurança e educação. Não necessariamente nessa mesma ordem.
BGC: O Brasil está preparado para eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas?
RM: O Brasil não está pronto para receber eventos dessa magnitude. Mas, na medida do possível, tentou se preparar. Sinceramente? Eu não condeno a Copa, nem as Olimpíadas. Só acho que faltou bom senso e pé no chão por parte dos nossos governantes. Essa história de fazer manifestação contra os jogos também não faz sentido. Eu sou a favor dos protestos sem violência, fiquei feliz em ver o povo na rua lutando por inúmeras causas. Mas gritar contra o Mundial um ano antes dele acontecer? Não tem relevância nenhuma. Infelizmente, o brasileiro deixa tudo pra última hora, até pra fazer manifestação. O protesto contra a Copa da FIFA deveria ter começado lá em 2007, quando o Brasil foi escolhido para sediar os jogos, mesmo sem a estrutura necessária.
BGC: Qual foi a reportagem que mais te emocionou?
RM: Na verdade foi uma cobertura. A tragédia em Santa Maria. Fui chamado pela direção de jornalismo da Record para ir até o local e quando cheguei, encontrei um cenário de pura tristeza. Tinha a sensação de que a cidade inteira estava chorando, comovida com a morte de tantos jovens. Fiz entradas ao vivo e reportagens para os jornais da casa. Impossível não se emocionar com tudo aquilo. Eu e minha equipe tínhamos que respirar fundo e continuar o trabalho. Me recordo de como era complicado se aproximar das famílias para tentar uma entrevista. E sempre que conseguia, finalizada a conversa dizendo: "Muito obrigado pela entrevista e me desculpe pela entrevista.". Durante o velório de dois irmãos que morreram juntos dentro da boate, emocionado, um familiar me abraçou depois da gravação e começou a chorar. Não foi fácil.
BGC: Qual foi a reportagem que mais te revoltou? (Sua reportagem).
RM: A história de uma mãe, de 17 anos, grávida de 9 meses. Já estava na hora da criança nascer, a gravidez era de risco e o hospital não queria internar a adolescente. Foi uma briga e tanto. Eu, o cinegrafista e o nosso auxiliar ficamos na porta esperando atendimento. Os profissionais fizeram exames e orientaram ela a voltar para casa. Procuramos os responsáveis e todos diziam que não poderiam fazer nada. Uma situação revoltante. A garota chorava muito e sentia fortes dores. Depois de muita insistência, ela foi recebida pelos médicos e internada. Naquele mesmo dia, o bebê nasceu. Fiquei feliz em saber que todo aquele esforço não foi em vão mas ao mesmo tempo fiquei triste. Uma equipe de TV precisou ir até o hospital para que o atendimento fosse feito.
BGC: Dica do jornalista:
RM
Livro: "Viagem ao mundo dos Taleban"
Filme: "Django"
Passeio: Londres
BGC: Em apenas uma palavra:
RM
Fé: Verdade
Deus: Onipresente
Família: Essencial
Trabalho: Gratificante
Amigos: Raridade
Rafael Machado: Trabalhador
BGC: Pra finalizar, qual é o teu conselho para os futuros jornalistas?
RM: Não tenha medo de arriscar. Seja criativo e faça jornalismo com o coração.
Nossos agradecimentos ao jornalista Rafael Machado e o desejo de muito sucesso em sua vida profissional e pessoal.
BLOG DO GUINHO CÉSAR