segunda-feira, 10 de novembro de 2014

ENTREVISTA EXCLUSIVA - HAISEM ABAKI

Ele é jornalista desde 1986 e professor de Jornalismo na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC).

Desde os 11 anos de idade, já alimentava o sonho de ser jornalista.

Com passagens nas rádios Mogi das Cruzes, CBN (7 anos), Bandeirantes (12 anos) e desde 2011 na Rádio Estadão, tem experiência de sobra para falar sobre jornalismo atual e tradicional.

Para o Blog do Guinho César, ele falou sobre as rádios em que trabalhou, Copa do Mundo no Brasil e desafios do jornalismo.

Acompanhe a entrevista exclusiva com o jornalista e âncora do Jornal Estadão 1ª Edição, Haisem Abaki.

BGC: Descreva o Haisem Abaki.
HA: Um cara que tenta ser correto com as pessoas.

BGC: O que é ser jornalista pra você?
HA: É ter a capacidade e principalmente a humildade de perceber os assuntos que interessam às pessoas e tratá-los de modo sóbrio, sempre procurando ouvir todos os lados. Mas esse comportamento não deve ser confundido com indiferença e com falta de bom humor. Dependendo do papel que o jornalista exerce (se for o âncora de um programa, por exemplo), essas atitudes também não devem significar um impedimento da opinião do profissional. Mas a opinião deve ter sempre embasamento na razão e não na paixão.

BGC: O que te fez se apaixonar pelo rádio? Em quem você se espelhou para chegar onde chegou?
HA: Comecei a ouvir rádio ainda criança, com meu pai. No início, não entendia muito bem as notícias que ele ouvia em árabe, mas aos poucos fui me interessando e fiquei fascinado ao pensar como alguém podia falar ali. Sempre ouvi de tudo, de jornalismo a comunicadores populares. De José Paulo de Andrade a Eli Corrêa, entre muitos outros. Depois trabalhei com esses dois e muitos outros que ouvia. Aprendi muito com todos e não gosto da separação, quase um preconceito, que ainda se faz entre jornalistas e comunicadores populares.

BGC: Porque você saiu do Grupo Bandeirantes depois de 12 anos? Houve alguma incompatibilidade?
HA: Eu não diria incompatibilidade, mas visões diferentes sobre como fazer rádio e em alguns momentos, visões diferentes sobre o processo de gestão. Só isso. Tenho bons amigos lá e sempre sou lembrado, inclusive com referências no ar. É uma ótima casa.

BGC: Entre os grandes grupos que você passou, podemos destacar a CBN/Globo, Bandeirantes e atualmente a Rádio Estadão. Quais são as diferenças entre os três veículos que mais te chamam a atenção?
HA: Em termos de liberdade, não vejo diferenças. Trabalhei na CBN/Globo por sete anos, na Bandeirantes por 12 e estou desde setembro de 2011 na Estadão. Não tive problemas sérios em relação a isso. As emissoras são parecidas em alguns aspectos, mas cada uma tem suas particularidades, sua linha editorial e seu ambiente de trabalho. A Bandeirantes, por exemplo, era uma rádio que trabalhava mais a opinião. A CBN, no meu tempo, se preocupava menos com isso. Na Estadão, percebo um meio termo, que considero ideal.

BGC: Você é muito ligado ao futebol, isso podemos comprovar pelos seus comentários no jornal Estadão no Ar, todas as manhãs. Como você avalia o atual momento do futebol brasileiro?
HA: Penso que ainda somos “o país do futebol”, mas temos muitos problemas de gestão nas federações e nos clubes. O futebol não deve ser visto isoladamente, fora do contexto do país. É um retrato do país, para o bem e para o mal.

BGC: Ainda sobre futebol, você acha que o Brasil estava preparado para sediar a Copa do Mundo? Qual será o legado deixado pela Copa a partir de julho deste ano, na sua opinião?
HA: Essa história ainda é complicada e gera muitas discussões movidas por paixões ideológicas e partidárias. Quem é a favor da Copa é tido como “governista”. Quem é contra ou levanta alguma suspeita é apontado como “golpista”, “pessimista”... É óbvio que o país, apesar de muitos avanços, ainda tem carências. Podemos fazer a Copa, sim, como estamos fazendo. Por outro lado, isso não significa fechar os olhos a possíveis irregularidades que tenham acontecido e que devem ser apuradas.

BGC: Qual foi o momento mais importante da sua carreira?
HA: Eu sempre procuro viver o presente. Por mais que a gente tenha uma história construída, é o presente que mantém essa história. É também o presente que pode destruí-la. Mas eu diria que o momento mais importante foi quando tinha entre 11 e 12 anos e disse a meu pai que queria ser jornalista. A coisa começou ali.

BGC: Qual foi a notícia que mais te revoltou durante a carreira?
HA: Acho que a lista seria quase interminável... Como já disse, prefiro pensar mais no presente. O que mais me incomoda é a intolerância. Intolerância com a opinião do outro, intolerância com a religião do outro, intolerância com o time de futebol do outro. Intolerância rima com ignorância e com arrogância, não é mesmo?

BGC: Qual foi a notícia que mais te emocionou durante a carreira?
HA: No começo de 1987 eu era um “foca” na Rádio Diário de Mogi e no jornal Diário de Mogi, em Mogi das Cruzes. Acompanhei um trabalho dos Bombeiros, que retiraram o corpo de um menino vítima de um deslizamento após uma forte chuva. Foi um impacto e na época acho que não estava preparado para isso. E nem hoje estaria, apesar da maior experiência agora.

BGC: Pra você, qual é o limite entre o jornalismo e o entretenimento? Os dois podem andar juntos?
HA: Podem, mas os papéis devem ficar mais claros. Vejo alguma confusão nisso, assim como entre informação e opinião. Mas o mais importante é que o profissional seja correto e transmita credibilidade no que faz.

BGC: Qual é sua técnica para manter o ouvinte durante tanto tempo ligado no rádio?
HA: Não sei se é exatamente uma técnica porque comigo ocorre naturalmente. Eu gosto do rádio “conversado” e é o que procuro fazer. É uma mistura do que aprendi ouvindo jornalismo e comunicadores populares desde a infância.

BGC: Na sua opinião, como será o futuro das rádios, no que diz respeito a audiência? Você acha que o jornalismo no rádio só terá futuro com a informalidade?
HA: Penso que a instantaneidade, o improviso, o “bom nervosismo” diante de um acontecimento importante que muda toda a programação e, principalmente, a proximidade com o ouvinte são grandes diferenciais do Rádio. Temos que usar bem as ferramentas tecnológicas de hoje, mas sem perder essa essência. É isso... Essência também rima com audiência.

BGC: Quais são os frutos colhidos desde 05/09/2011, quando você entrou ao vivo nos estúdios da Rádio Estadão?
HA: Em 1991, eu tinha 27 anos e participei do projeto de implantação de uma nova rádio, a CBN, outra ótima casa onde trabalhei. Depois, um pouco mais experiente, fui para uma emissora já consagrada, a Bandeirantes, que existe desde 1937. Agora, ainda mais experiente, participo do projeto de uma rádio que ainda pode ser considerada nova, a Estadão. Penso que estamos colhendo os frutos aos poucos e esta é a melhor maneira: crescer com consistência. Estou com ânimo de garoto nesse projeto.

BGC: Quais são seus planos para os próximos anos?
HA: Envelhecer fazendo o que gosto, mas sempre me renovando com projetos e desafios.

BGC: Dicas do jornalista:

Viagem: Qualquer lugar em boa companhia
Livro: São tantos... Pra citar um só, “A Reforma da Natureza”, de Monteiro Lobato. Acho que foi o primeiro que li.
Filme: Cinema Paradiso

BGC: Em apenas uma palavra:

Deus: Guia
Fé: Essencial
Família: Tudo
Trabalho: Dedicação
Rádio: Paixão
Ouvinte: Companheiro

BGC: Deixe uma mensagem para os futuros jornalistas?
HA: Não gosto de receitas prontas. O importante é conhecer todo o processo. Para ser um bom profissional, é preciso saber o que o seu colega está fazendo e respeitar o trabalho dele. Também é importante conhecer o Rádio como um todo, as várias funções que nele são desempenhadas e as necessidades do público.  Creio que devemos ser menos jornalistas e mais cidadãos. Jornalistas pensam que sabem o que é mais importante para os outros, mas devem ouvir mais as “pessoas comuns” e jamais imaginar que estão acima delas.

O Blog do Guinho César agradece a atenção e lhe deseja muito sucesso em sua carreira e vida pessoal.

Twitter: @guinho_cesarf

Email: blog@blogdoguinhocesar.com


BLOG DO GUINHO CÉSAR


Nenhum comentário:

Postar um comentário